Os alambiques ajudam a contar outra história da região. A cana entrou cedo como atividade produtiva nos municípios. A lógica era a de engenho: cultivo próprio, moagem da cana, produção de garapa, melaço, rapadura e, principalmente, aguardente. Isso gerou uma cultura de destilação que virou tradição familiar. Com o tempo, o café assumiu papel dominante e depois veio a diversificação das culturas, com as uvas de mesa e outras frutas. Mas a cana nunca desapareceu totalmente. Muitas famílias mantiveram pequenos canaviais para sustentar a produção de cachaça artesanal. Esse elo direto entre a lavoura de cana e o alambique é o que sustenta, hoje, as rotas de cachaça de várias cidades do Circuito.
O diálogo com o pomar é antigo: frutas frescas viram licores por maceração (casca, polpa ou sementes imersas em álcool neutro ou na própria cachaça) e aguardentes de fruta obtidas por fermentação e destilação do mosto de uva, jabuticaba, caqui, pêssego ou ameixa. Há também o uso do bagaço da uva para destilados.

Parte dessas bebidas recebe envelhecimento em madeiras brasileiras (amburana, bálsamo, jequitibá), que adicionam notas de baunilha, coco, especiarias e mel, perfis que combinam com infusões de casca cítrica, figo em calda, morango ou uva niagara.
Em várias cidades, o visitante pode acompanhar a produção da cachaça desde a colheita até a destilação em alambique de cobre, conhecer áreas de envelhecimento em barris de madeira e terminar a visita com degustação da aguardente e de licores. Fazendas históricas mantêm alambiques ativos há décadas e oferecem vivências completas, que incluem demonstração do processo, refeição e harmonização de sabores da roça.
Alguns alambiques são verdadeiros pontos turísticos, preservando equipamentos antigos, moendas e barris gigantes usados nas primeiras gerações da família. Há casos em que a cachaça artesanal é tratada como patrimônio local: destilarias são apresentadas como orgulho da cidade, fazem parte da agenda de visitação oficial e aparecem em roteiros promovidos pelos municípios.
Ao visitar um alambique tradicional e ouvir que aquela receita “é a mesma do avô”, não se trata de romantismo ou marketing. É, literalmente, resquício vivo do ciclo da cana de açúcar na região.



